"Algo me escapa na completa compreensão de Portugal.
Em teoria, Portugal seria responsabilidade dos portugueses, mas já tenho falado com alguns portugueses – aqui e ali, comigo próprio – e não parece ser assim.
O português, se já viajou pelo menos uma vez ou duas, dirá que se vive muito melhor em Madrid. Que Barcelona é que é uma cidade. Que foi a Paris e ficou parvo. Que Londres é que é cosmopolita e isto é o campo. Que os alemães é que trabalham. Que a América é que é livre. Que, no Luxemburgo, é que lhe dão o valor. Que a Irlanda é que topou a Europa. Que em Cuba é que há bons médicos. Em Itália é que há turismo. A Grécia, aquilo é que são ilhas. O Brasil, aquilo é que é viver. Na Bélgica, aquilo é que é limpeza. A Suíça é que é civismo. A Suécia, a Noruega e a Dinamarca – Deus meu! – é o Olimpo: trabalha-se pouco, mas bem, há instrução a rodos e, do neto ao avô, toda a gente presta serviço à comunidade. A Islândia é que faz música. Em África é que era. Na China é que eles sabem como é que é. A Holanda é que é liberal. A Argentina é que é bonita. A Venezuela não se deixa enganar. O Canadá não se mete em chatices. A Austrália é que deu certo. No Japão é que se pensa.
E concluem fatalmente: não é como aqui.
Se o português nunca viajou, pior. Porque tem um primo na Áustria, um cunhado na África do Sul e uma irmã na República Checa que se fartam de viajar porque, na Áustria, na África do Sul e na República Checa é que é.
Ora, de tudo isto infere-se o seguinte: Portugal é uma coisa e os portugueses outra. Portugal é algo que se cria e deglute a si mesmo. Só pode ser. É habitado por uma gente luminosa e esclarecida, mas, mesmo assim, não dá luz. Não aproveita. Que ingratidão.
Os portugueses – eu, você, o Vale e Azevedo e os outros dez milhões – estamos conscientes de tudo o que funciona, como funciona e sentimo-nos sofregamente identificados e compreendidos de cada vez que voamos alguns quilómetros para lá de Vilar Formoso. Mas que fazemos exactamente com essa informação? Nada, claro. Tentamos desesperadamente, mas Portugal não nos dá ouvidos. O que é esquisito, dado que, ao que parece, todos os portugueses pensam precisamente o mesmo que nós.
É como a alegoria da caverna de Platão. Nós saímos da caverna, vimos todos a verdade lá fora, mas não somos capazes de iluminar o nosso mundo de sombras quando regressamos.
Que estranho. Gente tão especial e esperta como nós."
Via Sinusite Crónica
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Wednesday, August 20, 2008
Blog em Destaque - Sinusite Crónica
Descobri por acaso, como praticamente tudo o que se descobre via net. Li alguns dos textos e gostei. Gostei bastante. Particularmente este, de Alexandre Borges que a seguir se replica:
Thursday, November 22, 2007
Fonte de Inspiração
A persistência vai dando os seus frutos...
http://saopaiodemondego.blogspot.com/2007/11/bem-moda-portuguesa.html
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